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NÃO GOSTO!

11 de Julho de 2014

As coisas de que um gajo se lembra quando está a escolher agriões para a salada do almoço.

Enquanto ia mecanicamente escolhendo as folhinhas e rejeitando os talos mais grossos, a caixa dos carretos elaborava sobre a nova proposta do “não pagamos” que acabara de ler, tentando encontrar algum sentido naquilo que não faz sentido nenhum. Basicamente o que continua a propor-se é que obriguemos os nossos credores a aceitar que não lhes paguemos o que já nos emprestaram, mas que continuem dispostos a emprestar-nos mais para cobrirmos o deficit de que não queremos prescindir.

Mas esta ainda é a menor das utopias de esquerda, pois continuamos a ver e ouvir todos os dias as exigências mais estapafúrdias seja do chamado povinho, seja das tentaculares corporações que se encostam à esquerda para esconder os propósitos chupistas. Porém as coisas parece que podem sempre tornar-se piores quando a forma corrompe o conteúdo. Tudo o que se critica hoje em dia é feito da forma mais incivilizada, mais mal-educada, mais insultuosa possível, fazendo com que uma eventual adesão ao conteúdo seja imediatamente descartada.

E é assim que chegamos ao “NÃO GOSTO!”. E o que eu não gosto é de me sentir a resvalar para a Direita, devido a uma rejeição emocional à incompetência, irracionalidade, facciosismo e fanatismo  da Esquerda.

Tendo por antepassados pequenos proprietários rurais que resolveram ultrapassar os apertados horizontes das serranias beirãs emigrando para o Brasil e para Moçambique onde se dedicaram, com sucesso, à agricultura e ao comércio, dificilmente eu poderia ter recebido uma cultura de esquerda stricto sensu. Mas, se nunca fui doutrinado nas virtudes do comunismo, sempre fui educado para respeitar a liberdade e a opinião dos outros. Umas das provas desse respeito pelos outros que os meus antepassados sempre pregaram e praticaram, está patente no facto de, apesar de razoavelmente abastados, nunca ninguém da minha família foi “convidado” a abandonar o país onde, de repente, ficámos estrangeiros. 

Sobre os anos de aprendizagem como “retornado numa fábrica comunista” já por aqui falei. E se a realidade chocante (quase inacreditável) do pré-25 fez abalar algumas das minhas convicções juvenis, a observação directa dos oportunismos, das manipulações, das coações, dos saneamentos profissionais por heresia política, impediram sempre a passagem para o lado do “todos os direitos, nenhuns deveres”.

Tudo ponderado, penso que consolidei o meu pensamento numa terra equidistante das “falinhas mansas” e das “gritos corrosivos”.

E, durante três décadas, foi-me relativamente fácil ir mantendo a equidistância percebendo através da leitura atenta dos extremos, o que cada uma das pontas tinha de razão e de facciosismo. Porém a esquerda, teórica e presunçosa, confiante de que os seus valores eram intrinsecamente bons e, como tal, fatalmente vencedores, descobriu agora que perdeu o Povo pelo caminho. Para recuperar a perda em vez de argumentos escolheu insultos.

Quando eu e 50% dos portugueses pensamos  que isto  é uma manipulação descarada e destorcedora da realidade, e os outros 50% acham que é uma verdade indesmentível e irrelevante do contexto, chegámos a um ponto onde não vale a pena debater.

É pena e eu NÃO GOSTO!

Kurioso